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BRASIL - Eleições 2006: Todo dia é dia para exercer minha florestania e minha cidadania (por Marilza de Melo Foucher)

quarta-feira 9 de agosto de 2006, postado por Marilza de Melo Foucher

Marilza de Melo Foucher

Agora que as eleições se aproximam vamos exercer nossa florestania (o exercício da cidadania dos povos da floresta) e nossa cidadania política. Esta é hora de agir de forma organizada para dar um valor simbólico ao nosso voto consciente, pressionando os candidatos a cumprir com certos compromissos sociais e políticos! Temos hoje a internet a nossa disposição e cada um direta ou indiretamente de participar na campanha eleitoral. Existe um potencial de setores organizados no Brasil que estão integrados em redes, vamos mobilizar nossas relações que podem ter efeito multiplicador sobre o que queremos de nossos candidatos.

Uma das exigências é com a educação. Enquanto os governos nos três níveis de ação, federal, estadual e municipal não tratarem como prioridade à qualidade da educação, seja do jardim da infância à faculdade, o Brasil continuará fabricando a exclusão e incivilidade.

Para enfrentar a ideologia da exclusão ainda tão presente na sociedade brasileira, faz-se necessário e urgente de estabelecer no currículo escolar do ensino médio e fundamental um programa de educação cívica objetivando a formação dos jovens para o exercício da cidadania Só assim eles poderão decifrar a realidade em que vivem, saber exercer seus direitos e cumprir com as obrigações face ao Estado democrático. Não vamos confundir educação cívica com nacionalismo. Trata-se de educar os jovens brasileiros para o exercício futuro do poder, eles devem adquirir o aprendizado de saber lidar com a coisa publica, para desde cedo entender o que é o Poder, qual a função do poder político, quais são as qualidades necessárias para o exercício do poder político. A exigência da educação cívica pode também ser útil para sanear o vírus da corrupção presente na sociedade brasileira.

Ao transmitir os valores republicanos e um bom entendimento sobre o funcionamento do Estado, essa abstração teórica criada pela inteligência humana, estaremos sem duvida nenhuma edificando uma nação mais justa e mais fraterna.

Vamos discutir sobre a verdadeira política com os nossos vizinhos sem fanatismo e sem sectarismo, vamos discutir com nossos amigos, com os nossos parentes sobre a realidade em que vivemos e nossa vontade de mudar essa realidade para melhor. Estar na hora também de balanço, é hora de olhar no retrovisor da historia política brasileira e ver que nossa jovem democracia ainda é muito tímida na participação da cidadania.

A renovação dos quadros políticos depende de cada um de nós. Podemos por exemplo colocar para fora as velhas raposas políticas, estes criaram a política fisiológica do dando é que se recebe, são eles que freiam todas as reformas estruturais e impedem o bom funcionamento das estruturas do poder legislativo. Esses não estão no senado, na câmara para defender o interesse coletivo, o interesse do povo, mas sim o interesse das regalias que o poder político lhes oferece. O pior é que muitos eleitores (as) contribuem para a falta de ética parlamentar, querem que cada político lhe consiga emprego, bolsa de estudos para seus filhos, passagens aéreas e outros tipos de apadrinhamento político. Muitos esquecem que o poder legislativo é a representação do povo e que o papel dos políticos e de votar as reformas que beneficiem o povo, aprovar projetos e apresentar projetos que defendam o bem estar dos seus concidadãos. Infelizmente certos comportamentos podem ser adotados espontaneamente pela sociedade que passa a achar normal que os políticos sirvam de cabides de empregos, os favores privados passam a prevalecer acima do interesses coletivos. Essa falta de consciência política e esse tipo de comportamento certos eleitores (as) contribuem para a falta de ética na política. A sociedade brasileira há séculos convive com o famoso “jeitinho” integrante do vírus da corrupção, que faz que hoje existe pequenos, médios e grandes corruptos em todas as esferas de poder. Por isso a moralização da vida publica pode ser um bom assunto de discussão e começa pela nossa própria avaliação de como eu e você nos relacionamos com o poder.

Talvez esse tipo de discussão seja mais interessante que ver a televisão ou ler certas revistas...O eleitor e eleitora brasileiro, deve ter observado nesses últimos anos que o debate político no Brasil perdeu o brilho da racionalidade que exige a boa análise, aquela análise que contextualiza, que coloca a nu certas contradições e cujo conteúdo leva o leitor a refletir sobre sua realidade. Infelizmente a politicagem assumiu sem complexos o picadeiro, a área central do circo em que os palhaços nos levam a rir, a descontrair o diafragma, mas nem para ser palhaço certos políticos que ocupam a cena política hoje servem. Dentro desse contexto de baixarias verbais, as cenas de desrespeito republicano foram marcantes. Nunca se viu tanto racismo, tanto discriminação tanto ódio na boca de certos políticos e certos jornalistas. Esse tipo de politicagem é perversa para a democracia e nada acrescenta à educação do povo brasileiro. Logicamente a televisão, certas revistas e jornais alimentam e provocam o baixo nível do debate político e nada ajudam na construção de uma cidadania política. A grande Nação Brasileira merece que o jornalismo seja praticado dentro do rigor intelectual necessário. Nada de bajulação, apenas neutralidade necessária para analisar os fatos tais como eles se apresentam. Um jornalismo independente do poder político enaltecerá sem duvida a democracia dessa jovem Nação. Felizmente nos restam alguns jornais e poucas revistas politicamente corretos.

O Brasil não pode parar com as eleições, as reformas que vão atenuar as injustiças sociais devem continuar, a sociedade civil organizada, deve continuar o seu papel de pressão e de co-gestão do estado de direito no Brasil capaz de garantir a governabilidade democrática. Os brasileiros (as) esperam que cada dia um projeto de desenvolvimento seja executado, uma obra inaugurada, uma justiça social seja praticada, afinal os brasileiros(as) saberão que nem só de praticas de corrupção se erige uma Nação!

O Brasil-potência mundial, não pode mais co-habitar com a prosperidade e a miséria. A distribuição das riquezas nacional ainda é um tabu, é difícil se fazer reforma tributária nesse país, a maioria dos brasileiros quer aproveitar do progresso e usufruir o máximo, mas desde que tem que compartilhar com outros, grita forte, e pagar um pouco mais de imposto, ou pagar corretamente seus impostos, nem se fala, sempre se dar um jeito de fraudar o dinheiro da nação! Esquecendo que os impostos representam justiça social quando ele é transformado em fundo público e serve para melhorar a qualidade dos serviços públicos oferecidos a população. Alguns se dizem de esquerda, porém não toque no seu bolso. Alguns se dizem cristãos, mas aceitam que matem e explorem seus ditos irmãos. O egoísmo dos que têm tudo, impede o funcionamento normal de uma republica democrática no Brasil.

Mesmo morando na França há muito tempo, desde o final dos anos 70, isto não elimina minha capacidade de exercer a cidadania política, intervindo e participando no debate sobre a realidade brasileira e política atual. Com internet à nossa disposição podemos opinar e nos mobilizar por exemplo pelo voto cidadão nessa próxima eleição, não devemos abrir mãos de certos princípios: “Os direitos humanos, a solidariedade social, o desenvolvimento territorial integrado e sustentável, a justa partilha dos frutos do crescimento econômico, o direito a um ambiente protegido, o respeito pela diversidade cultural, lingüística e religiosa deve constituir em um precioso patrimônio de valores”. Eu tive essa honra e privilégio de aprender e apreender a realidade brasileira no terreno da ação, devido meu trabalho na área da cooperação internacional. Conheci pessoas de todas as categorias sociais, principalmente gente humilde, excluído economicamente, socialmente, culturalmente em meu país. Graças a eles, eu vivi uma experiência indivisível de vida e de solidariedade. São atores sociais organizados e engajados com a mudança do país, estes sim amam profundamente o Brasil, eles estão no campo da ação solidária e não se contentam com o papel passivo da cidadania.

Lamentavelmente existe no Brasil uma categoria de ricos e classe média (alta) que é passiva diante da exclusão social, a cidadania quando por vezes é exercida é somente para cobrar direitos, ignoram que tem também deveres face à Republica brasileira. Ao desconhecer e ignorar o acesso aos direitos fundamentais de milhões de brasileiros, eles se privam do convívio pacifico em seu território e da liberdade de circulação sem perigo de ser assaltado. Infelizmente não têm consciência, que cada brasileiro (a) necessita ter um teto, ter educação publica de qualidade e ter trabalho remunerado corretamente, ter terra para plantar e sobreviver com dignidade. Na certa não seriam confrontados em permanência com a violência rural e urbana, que transforma nossas cidades em campo de batalhas sangrentas. Infelizmente, eles preferem viver fechados nos condomínios, cada um vive enclausurado, com síndrome do pânico e com uma obsessão de segurança. Será que são felizes vivendo em prisões douradas? Vivendo sem relação de vizinhança, desconfiado de sua própria sombra... se pelo menos eles buscassem a se somar a legião dos teimosos utópicos que amam o Brasil e querem compartilhar o bem estar social, alegria e beleza para todos sem discriminação, esse país seria outro.

Tenho certeza que os eleitores e eleitoras brasileiros(as), votarão de modo civilizado exercendo sua plena cidadania, com capacidade de julgar sobre o que mudou em 4 anos de mandatos do governo Lula, se renovam ou não seu voto de confiança. O importante é ocupar os espaços para o exercício de nossa cidadania política e revigorar nossa jovem democracia. A POLITICA verdadeira é aquela que enaltece nossa Republica Federativa do Brasil, elevando o nível de participação política dos cidadãos e cidadãs, que ao interiorizar suas normas e valores, dentre estes a ETICA, forjarão uma nação fraterna onde todos (as) poderão usufruir dos frutos de um desenvolvimento integrado, solidário e sustentável.

Marilza de Melo Foucher

Dra. em Economia-Sorbonne-Paris

Consultora Internacional.

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